Sentimentos a distância...

   
         Imagine um caminho, uma estrada. Estamos caminhando nela há muitos anos. Olhamos para um lado e enxergamos o que vivemos a vida inteira, sem novidade, tudo monocromático, opaco; do outro, temos luz, sol, amplitude, desafios, o novo, algo inexplicável. A trilha é uma escolha. Em um dado momento é preciso decidir o que queremos seguir. Podemos pegar a  direção do desconhecido ou mantermos a caminhada no que já estamos acostumados. Só depende de nós, depende do quanto estamos preparados ou ansiosos por mudança. Felizes, satisfeitos, desejosos….Qual a sensação que tens quando levantas da cama todos os dias? Está feliz ou a vida apenas segue?
           Foi motivada por esta pergunta que um dia, sentada à beira de minha cama, tentei encontrar uma resposta para minhas angústias. Deparei-me com uma outra pergunta para a qual não encontrei resposta imediata: "O que me faz feliz?". Senti dificuldade em responder. Percebi que precisava mudar. Mas acostumada a viver em uma só direção decidi seguir em frente anestesiada.
       Não é fácil decidir-se pelo novo, pelo desconhecido, pelo inesperado. Essa atitude perante à vida muitas vezes tem um gosto até amargo. Só deveria tentar aventurar-se ao autoconhecimento quem consegue enfrentar-se na solidão. Não é fácil acordar e dormir no vazio.
        Sinto-me mais leve.  Enfrentar o desconhecido é um desafio que todos deveriam experimentar. Dói, mas no fundo é algo libertador. Acostumei-me nessa nova temporada a imaginar-me voando. Sim, estou voando rumo ao que a vida pode me oferecer. Não tenho controle sobre o dia de amanhã, o que para mim é difícil, sofrido, mas libertador. Não sei como vou acordar amanhã, o que vou fazer amanhã…o que pode dar certo ou errado. Algumas decisões fogem de minhas mãos e isso é muito bom.
           Coragem não é um substantivo de fácil entendimento. Colocá-lo em prática requer força e determinação. Coragem pode significar muito ou nada. Depende de quem a impulsiona. Eu sou corajosa. Eu sei disso. E tenho força também.
              Quando eu saí de casa pela primeira vez para o desconhecido, tinha 15 anos. Foi uma péssima experiência. Não estava preparada, não sabia o que a vida poderia me oferecer, não sabia o que queria e não tive orientação nem sequer quem me desse as mãos. Foi um desastre, mas serviu para entender algumas questões sobre a vida.
               Hoje, sinto falta de algo que deixei para trás. Foram tantos anos vivendo da mesma maneira que viciamos ao conhecido. Mudar é isso. É deixar as asas crescer e ganhar o vento. É deixar que a vida nos remeta ao tempo, é ganhar força e cortar as nuvens que teimam em nos impedir de voar. Eu quero voar. Seja para onde for.
                Para ganhar asas não precisa uma decisão tão forte como a minha: deixar tudo para trás e com duas malas, apenas, se reconstruir. Pode ser qualquer decisão que lhe faça feliz: uma nova profissão, um filho, um bichano, uma vida mais simples ou uma vida de euforia…não importa. Viver é muito mais que competições vazias e tentativas frustradas de manter posições. Viver é acordar todos os dias, olhar o tempo e dizer: Eu consegui.
            Vim para Braga com o intuito de renovar meus desejos. Não sou mais a adolescente de 15 anos que saiu de casa a primeira vez rumo a uma tentativa. Sou uma mulher e sigo como a escritora Cora Coralina escreveu alguns preceitos:

"Eu sou aquela mulher 
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista".             

               Atitude é o que precisamos perante à vida. Nem sempre as melhores decisões são tomadas de forma tão pensada ou planejada. Aprendi a deixar-me mais aberta, menos defensiva, colocar mais alegria em tudo que faço, ser mais leve a cada dia. Eu sinto menos peso ao deitar e quando levanto já não tenho a sensação de peso no corpo. Estou aprendendo a ter paz.
               O novo ano começa com profundas mudanças. Não só de país, mas da forma como quero seguir os próximos muitos anos. Ainda tenho transformações a fazer, sentimentos a melhorar, atitudes a desenvolver, sonhos a realizar. Mas o melhor de todo o processo foi aprender a viver mais leve, sem tantas cobranças e perceber que a vida é tão breve que se torna até chato ser tão comprometido com o que quer que seja.
           Entre as resoluções para 2018, estão: a vontade de continuar nesse caminho de autodescoberta, estar ainda mais livre para o que a vida trouxer, mais aberta a sentimentos, à crença, à fé em dias melhores, acreditar no poder transformador da mudança, seguir a vida  fazendo o que gosto, fazer mais pelos que precisam, adotar um cãozinho…simplesmente VIVER. 


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