Um ano em braga e a certeza: minha vida começou aos 40






Breve desabafo de quem libertou-se das amarras da vida, jogou tudo para o alto, e descobriu que não existe perfeição e que felicidade é muito mais do que ter dinheiro na conta


      Cheguei com a desculpa de um mestrado, mas no fundo queria mesmo era ser feliz, recomeçar, aventurar-me. Estava cansada de uma vida mesquinha, vazia, sem graça e com todos os formalismos que aprendemos a ter e que, no fundo, servem apenas para nos minar. Eu estava infeliz com minhas escolhas. Havia uma angústia que não sabia bem o que significava. 


     “Não, eu não volto mais ao Brasil”, sabia que havia selado o meu destino ao dizer esta frase aos meus pais. Lembro-me perfeitamente do dia em que pronunciei essas palavras. Era novembro e o dia estava chuvoso. A ligação para minha família já durava quase uma hora, quando soltei a bomba. Recordo os olhos do meu pai fixos em mim e um  ponto de interrogação a martelar sua cabeça. Imediatamente, minha irmã disse-me: “eu sabia”. Mas, no fundo, ninguém entendia bem o que se passava. 

      Perguntavam o que havia acontecido para tamanha transformação. Estava há apenas um mês em Portugal quando decidi ficar de vez e instalar-me na encantadora cidade de Braga. O motivo? Agora posso falar abertamente: vontade de viver. Só isso. Respirar fundo ao sair de casa e perder-me a caminhar pelas ruas da cidade.

        Sei que fui muito criticada pela minha decisão. Afinal, uma mulher que chega aos 40 anos sem casar e sem filhos já se torna um ser anormal. Agora, imaginem, tudo isso somado a necessidade de viver intensamente. Pronto! Minha filha está louca. “O que ?”, disse minha mãe. “ E deixar tudo para trás?”. 

“Sim”, respondi. “Deixar tudo o que nunca foi meu para trás”. Profissão, relacionamentos, conquistas sociais, e tantas outras coisas mais que já não fazem mais parte do meu perfil. Vi-me, a certa altura de 2017, em frente á praia em que morava como se tivesse à mão um checklist. Pensava:  “Dinheiro, ok; casa em frente à praia, ok; sucesso profissional, ok (vejam: nunca pude reclamar disso);  viagens internacionais, ok; jantares em lugares da moda carioca, ok;  fins de semana gastronómicos em São Paulo, ok; e muito mais. O checklist estava demasiadamente grande e vazio. A opção: estudar fora do país não podia ser preenchida, como também não a pergunta que vinha logo abaixo: “é feliz?”. Suspirei e pus-me a andar pela areia. Fui tomada pela vontade de viver uma vida diferente. Um sorriso abriu em meus lábios. O vento bateu na pele e senti que era hora de mudar. 

      Não foi fácil abrir o peito e cair neste precipício. Havia muito a vencer. O medo inicial de viver em outro pais aos 40 anos, fazer um mestrado e escrever uma tese, deixar tudo para trás, abandonar 18 anos de carreira, emprego, amigos, família. Nossa! Até o ultimo segundo, tentei porque tentei ficar no Brasil. Sabem o que os terapeutas chamam isso de auto-sabotagem? Pois foi exatamente o que fiz durante seis meses. No entanto, tudo o que tentei foi por terra. Parecia que tudo me puxava para a aventura mais alucinante da minha vida. 

      Ainda hoje, tudo parece ter saído de um rompante. Mas não foi. Eu inscrevi-me em três universidades portuguesas. Planejei-me financeiramente e comprei a passagem. Sabia que meu dinheiro duraria dois anos. Tempo suficiente para viver a aventura e voltar para o Brasil. Essa foi a programação antes de sair do meu país.  E vim. Sem certezas. Cheia de medo. 

       Quando aqui cheguei, logo vi que a realidade era outra e meu planejamento foi para o espaço. Claro que ter uma família na cidade foi fundamental para minha adaptação. Recebi tanto carinho e atenção que o primeiro mês passou tranquilo e sem sobressaltos. 
Mas, logo veio o segundo mês, e com ele um apartamento vazio e só para mim. Pela primeira vez, conseguia realizar o sonho de morar sozinha. O temor que existia antes de sair do Brasil desapareceu por completo. Fui tomada por uma força desconhecida. Foi ali que tudo se transformou e entendi que estava livre para voar. 

      E voei. Dei um rasante no desconhecido e mergulhei de cabeça na vontade de ser feliz. Logo no primeiro mês descobri a felicidade em andar a pé e fui desbravando sentimentos que nunca havia sentido. 

       Respirei fundo e fui trabalhar como atendimento no MC Donalds ao lado da universidade. Graças a esse emprego, pude pagar minhas contas, meu aluguel e tudo mais. Foram quase 12 meses de trabalho duro e horas a fio em pé. Mas valeu cada esforço. Ganhei amigos, muito carinho e boas risadas. 

       Ao libertar-me das minhas amarras, percebi que um mundo maravilhoso, encantador e completamente novo abriu-se para mim. Descobri sentimentos, habilidades, deixei-me experimentar tudo o que podia: bebidas, gastronomia. Abri os braços em direção ao meu sonho. E a vida respondeu: agora sim. Você está livre. 

       Foi assim que percebi que nunca havia vivido. Hoje, garanto: minha vida começou aos 40 anos. Sim. Começou. Aqui, compreendi o verdadeiro significado do que é amar. Pode ser simples para muitos, mas para mim nunca foi. Sempre conjuguei mal esse verbo. Mas ao arrebentar as amarras, a vida me trouxe o amor. E agora começo a construir uma família. E digo com muito orgulho que pertenço a alguém de corpo e alma. Um amor para vida toda. Conquistei em Braga. 

       Diante dessa experiência, o que aprendi foi: “Não. A vida não é só dinheiro”, “viver é magnífico”, “ser livre é o melhor que alguém pode desejar”, “amar renova a alma e o espírito”, “ oportunidades, criamos”, “é preciso acreditar cegamente em si”, “um dia de cada vez”, “cometer erros é, acima de tudo, libertador”. Com isso, vivo quase como se fosse uma criança. 


       E como dizia Rubem Alves, “A minha alma tem muita pressa. Sem muita jabuticaba em minha bacia, eu quero viver ao lado de gente humana que sabe rir dos seus tropeços e de todos os seus erros. O essencial: caminhar ao lado de pessoas de verdade e que faça valer a pena”. E encerro esse texto com uma provocação: Eu sou feliz. E você, o que falta? Jogue-se ao infinito e aproveite. Não é cliché. Amanhã, pode não ser mais possível.

Comments

  1. Boa noite!
    Tudo bem?
    Eu me chamo Fabio e sou de Garanhuns - Pernambuco - Brasil.
    Atualmente sou músico pianista e tecladista.
    Estou lhe enviando essa mensagem para pedir um favor: Ajudem-me a divulgue esse meu trabalho para que através dele eu possa conseguir gerar alguma renda e manter a minha família. Por conta da pandemia, estou sem poder trabalhar. A nossa área de atuação artística foi a primeira a parar e será a última a voltar. Então peço-lhe que divulgue esse link em suas redes sociais para que eu possa obter algum resultado. Esse trabalho tem um valor simbólico, mas, que me ajudará bastante diante da situação que estou passando. Espero que possa me ajudar! Obrigado pela a atenção e por ler essa mensagem!
    Link do trabalho: https://go.hotmart.com/Y50306631N

    ReplyDelete
  2. Boa noite!
    Tudo bem?
    Eu me chamo Fabio e sou de Garanhuns - Pernambuco - Brasil.
    Atualmente sou músico pianista e tecladista.
    Estou lhe enviando essa mensagem para pedir um favor: Ajudem-me a divulgue esse meu trabalho para que através dele eu possa conseguir gerar alguma renda e manter a minha família. Por conta da pandemia, estou sem poder trabalhar. A nossa área de atuação artística foi a primeira a parar e será a última a voltar. Então peço-lhe que divulgue esse link em suas redes sociais para que eu possa obter algum resultado. Esse trabalho tem um valor simbólico, mas, que me ajudará bastante diante da situação que estou passando. Espero que possa me ajudar! Obrigado pela a atenção e por ler essa mensagem!
    Link do trabalho: https://go.hotmart.com/Y50306631N

    ReplyDelete

Post a Comment

Popular Posts